Inicio este artigo com uma icônica frase que foi o mantra da primeira eleição de Bill Clinton para a presidência dos EUA: é a economia, estúpido. A frase foi cunhada em referência ao tema que deveria ser repetido pela campanha em toda e qualquer oportunidade, pois era o que interessava aos eleitores naquele momento e fragilizava a gestão do então presidente George Bush. No Brasil de 2022, a frase poderia muito bem ser afixada em todos os comitês de campanha dos candidatos a presidente, especialmente, dentro do palácio do planalto.
Quando acreditávamos que a pandemia havia nos dado um fôlego para respirarmos e cuidarmos de nossas feridas (que tem nome e sobrenome: crise econômica), fomos surpreendidos por uma guerra do outro lado do mundo que, para além da inaceitável tragédia humana que representa, trouxe também severas consequências econômicas, gerando uma inflação global que há décadas não se via.
Voltando os olhos às nossas terras, não há dúvidas de que a economia é a principal preocupação dos brasileiros e, nessa área, nada impacta tanto a vida das pessoas quanto o nível de renda e a inflação. Qualquer um que deseje acompanhar e entender as eleições presidenciais deste ano, precisa, em primeiro lugar, acompanhar esses dois indicadores. Na crise em que mergulhamos, eles são a principal explicação dos números de intenção de voto e aprovação do governo que vemos nas pesquisas atualmente.
Falando em pesquisas, os números de intenção de voto, por mais que rendam boas manchetes, nos dizem muito pouco neste momento. Considerando que temos uma eleição na qual o atual presidente, ao que tudo indica, concorrerá à reeleição, o número mais importante que qualquer pesquisa pode trazer é a avaliação do governo. Toda eleição em que o mandatário é candidato a reeleição torna-se, necessariamente, polarizada: de um lado, quem o aprova e que provavelmente votará nele e, do outro lado, quem o desaprova e deverá buscar outras opções de voto. Por isso, nesse momento, quem realmente define a intenção de voto em todos os candidatos é Jair Bolsonaro. Quanto mais bem avaliado estiver, mais eleitores votarão nele e, quanto mais mal avaliado, mais votos sobram para serem disputados pelos outros candidatos. O gráfico abaixo ilustra claramente como a intenção de voto em Bolsonaro acompanha a tendência de sua avaliação.
Observando o desempenho eleitoral dos presidentes passados, o histórico é favorável aos governantes, uma vez que todos os três presidentes que se candidataram à reeleição tiveram sucesso (FHC em 1998, Lula em 2006 e Dilma em 2014), por outro lado, quando comparamos sua avaliação ao final do primeiro trimestre do ano de sua reeleição, observamos que Jair Bolsonaro se encontra em situação bem mais difícil que seus antecessores, com uma avaliação negativa que supera em 20 pontos a avaliação positiva.
Importante reforçar que esta análise não tem a pretensão de prever o resultado da eleição, pelo contrário, o propósito é tentarmos entender melhor o momento atual, fazendo o comparativo com governos e eleições passadas e observando os fatores que podem explicar os números de hoje.
Como pontuado anteriormente, a intenção de voto para presidente está ligada intimamente à avaliação do presidente e a avaliação que se faz do governo, neste momento, acompanha principalmente os resultados da economia. Segundo pesquisa Quaest de abril, 46% dos brasileiros afirmam que a economia é o principal problema do país, os demais problemas apontados são saúde/pandemia com 14%, corrupção com 14% e questões sociais com 12% (podemos imaginar que parte dessas questões sociais derivem também da economia: fome, miséria, etc.). Segundo pesquisa do Instituto FSB Pesquisa, também de abril, a inflação é a condição econômica que mais afetada a vida dos brasileiros, mais do que dívidas, desemprego ou atraso no pagamento de contas.
O gráfico abaixo relaciona a inflação acumulada e a aprovação negativa dos presidentes desde o ano 2000. Os dados mostram que a inflação certamente não é a única explicação para a melhora ou piora nas avaliações presidenciais, contudo, fica claro que, quando atinge patamares muito elevados, tem forte impacto político.
Em 21 anos, só tivemos 3 onde a inflação medida pelo IPCA ultrapassou os 10% e, por coincidência ou não, todos eles trouxeram péssimas repercussões para os presidentes. Em 2002 a inflação chegou a 12,5 e FHC não conseguiu eleger seu sucessor José Serra, que perdeu a eleição para Lula. Em 2015 a inflação chegou a 10,7 e foi aberto o processo de Impeachment de Dilma Rousseff. Em 2021, a inflação chegou a 10,1 e a avaliação negativa de Bolsonaro atingiu níveis muito altos, com mais da metade da população considerando seu governo ruim ou péssimo. Neste ano, apesar de as expectativas do mercado serem de inflação mais baixa que no ano passado, o IPCA do 1º trimestre de 2022 já foi maior do que o 1º trimestre de 2021.
Observando agora a relação entre o segundo indicador econômico que demos ênfase (nível de renda) e avaliação governamental, já é possível vermos uma relação mais direta e de curto prazo. Ao longo de 2021, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios Contínua do IBGE, o rendimento médio real diminuiu ao longo de todo o ano de 2021 e teve uma recuperação em 2022. Segundo as pesquisas de opinião, a avaliação do governo Bolsonaro seguiu a mesma tendência: piorou gradativamente ao longo de 2021 culminando no patamar mais baixo de 23% de avaliação ótima+boa em dezembro e, em 2022, vemos uma melhora nestes primeiros meses, chegando a uma média de 27% em março e 29% em abril.
Temas como corrupção, embates entre direita e esquerda, progressismo e conservadorismo, etc. serão relevantes, porém secundários nesta eleição. Relembro: esta é uma eleição polarizada, não entre Lula e Bolsonaro, mas entre quem aprova e quem desaprova o governo e o que determinará o tamanho de cada lado é o desempenho da economia, não o crescimento do PIB ou a alta do Ibovespa, mas da economia real, aquela que afeta diretamente o bolso da população. Hoje essa balança pende de forma bastante desfavorável ao governo federal. Se a situação econômica irá melhorar no futuro próximo e se isso será o suficiente para reverter o desgaste acumulado por Bolsonaro, são questões que teremos que esperar para ver.
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