Publicado pelo Jornal O Povo. Disponível em: https://mais.opovo.com.br/jornal/opiniao/2022/02/04/erros-em-pesquisas-eleitorais.html
Não é incomum vermos diferenças entre os números apontados nas pesquisas e o resultado das urnas. A cada eleição ressurge o debate sobre os erros das pesquisas e, a partir dele, faço uma pergunta: temos certeza de que esses “erros” são fruto de falhas das pesquisas ou é possível que outros fatores mudem o cenário numa última hora?
Em estudo recente, os professores Mathieu Thurgeon e Ryan Lloyd argumentam que práticas eleitorais irregulares comuns no Brasil, como a propaganda eleitoral no dia da eleição e a compra de votos, influenciam eleitores na última hora e podem ajudar a explicar as diferenças entre os resultados das pesquisas e a eleição.
Essas práticas têm ainda mais impacto em 2 casos: quando há grande diferença entre os recursos de campanha dos candidatos e quando há grande número de eleitores indecisos. Ao analisarem 207 pesquisas entre 2002 e 2014, os autores encontraram, de fato, uma correlação entre os 2 pontos acima e maiores níveis de erro nas pesquisas eleitorais.
É importante entender que a margem de erro, aquele tradicional número “para mais ou para menos”, não é o único erro possível numa pesquisa. A literatura sobre o tema lista vários tipos de erro, alguns decorrentes de falhas de planejamento ou execução e outros causados por fatores completamente externos à pesquisa. A interferência de última hora (e muitas vezes ilegal) das campanhas é um exemplo. Outro que vimos recentemente foi a abstenção recorde ocasionada pela pandemia em 2020.
Apesar de as pesquisas poderem errar, a maioria das críticas que vemos decorre menos de uma análise criteriosa de seus erros e mais da expectativa que criamos de que elas devem prever o resultado da eleição, mesmo que não tenham essa capacidade: pesquisa é retrato do momento e um conjunto delas pode apenas apontar tendências.
Com o passar do tempo, é salutar que aproveitemos as oportunidades para sair do discurso superficial e entender melhor as pesquisas, seus “erros e acertos”. Isso certamente contribuirá para nossa compreensão do que levou aos resultados em cada eleição.
Pedro Barbosa é cientista político e diretor técnico do Instituto Opnus.
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